PELA REABILITAÇÃO
DO CAPITÃO BARROS BASTO
O “APÓSTOLO
DOS MARRANOS”
Chegou à nossa redacção uma carta da Conferência
das Organizações Americanas, dirigida ao Governo Português, por intermédio do Embaixador de Portugal em Washington, que pela
sua importância transcrevemos na integra.
13 de Junho de 2003
S.E. Senhor Pedro Manuel dos Reis Alves Catarino
Embaixador
da República Portuguesa
2125 Kalorama Road, NW
Washington DC 20008
Excelência
Este ano marca seis décadas
desde que o Capitão Barros Basto foi injustamente destituído das suas patentes pelas autoridades militares portuguesas naquele
a que historiadores chamaram o “Caso Dreyfus Português”.
Em nome da Conferência de Presidentes das Principais
Organizações Judaicas Americanas, gostaria de solicitar a sua intervenção no sentido de reparar o erro histórico cometido.
Em 1943, o Ministro da Defesa Português decidiu
destituir Barros Basto dos seus deveres de oficial, apesar de este ter servido com distinção durante a Primeira Guerra Mundial.
Como base para a sua decisão, o Ministro alegou razões não especificadas para o bem-estar nacional, mas a verdade é muito
mais perturbante.
O Capitão Barros Basto era um “Marrano”,
um descendente de judeus cujos antepassados tinham sido forçados a converter-se ao catolicismo quase cinco séculos antes.
Depois de uma longa e árdua busca das suas raízes, Barros Basto decidiu voltar à fé dos seus antepassados e passou por um
retorno formal ao Judaísmo.
A partir da cidade nortenha do Porto, iniciou uma campanha pública com o objectivo de convencer
outros Marranos a emergirem de séculos de clandestinidade e juntarem-se ao seu povo. A sua prática aberta do Judaísmo e os
milhares de pessoas que, segundo historiadores como Cecil Roth e Howard Morley Sachar, ele inspirou, não eram bem vistos pelas
autoridades na altura, que pretendiam suprimir o seu movimento fazendo contra ele falsas acusações.
Apesar das denúncias
do seu acusador do Porto contra Barros Basto, o caso foi abandonado dois anos depois por falta de provas. No entanto, em 1943,
o Ministro da Defesa revogou o cargo de Barros Basto, humilhando-o injustamente e malogrando os seus esforços para reacender
o “Marranismo” português. Faleceu em 1961, um homem destruído. Com efeito, destruindo Barros Basto e a sua reputação,
os seus opositores conseguiram destruir o seu movimento renovador.
Em 1974, depois da Revolução de 25 de Abril,
a sua filha, Senhora Teixeira da Silva, submeteu um apelo ao Ministro da Defesa e ao Presidente da República, Francisco Costa
Gomes, respeitante ao caso do seu pai. Dois meses mais tarde o Gabinete do Presidente recusou o seu pedido alegando que tinham
passado demasiados anos para reabrir o processo.
Excelência, acreditamos não haver limites de
tempo quando se trata de fazer justiça.
O Capitão Artur de Barros Basto foi um herói Judaico e um exemplo, que conseguiu
edificar a bela Sinagoga Mekor Haim que existe até hoje no Porto. Abriu uma Escola Judaica, publicou um jornal judaico e foi
responsável pela publicação de numerosos livros sobre História Judaica, Lei e Cultura. A sua única transgressão foi o seu
desejo de inspirar pessoas a explorar o Judaísmo, em tempos em que isso não era bem visto pelo governo que detinha o poder.
Artur de Barros Basto não mereceu a desgraça a que foi sujeito e é adequado que o registo histórico seja corrigido em conformidade.
Sabemos que a organização Amishav, com sede em
Jerusalém e encabeçada pelo Sr. Michael Freund, encetou esforços para limpar o nome do Capitão Barros Basto e desejo expressar
o apoio da minha organização a este importante esforço.
Consequentemente, gostaríamos de solicitar às
autoridades portugueses a reabilitação, a título póstumo, da patente militar do Capitão Barros Basto e a aprovação, pelo Parlamento
Português, de uma resolução reconhecendo a injustiça contra ele cometida. Paralelamente, solicitamos ao Presidente da República
Portuguesa que emita uma declaração que limpe o nome de Barros Basto de qualquer dano e que peça desculpa pela mágoa que esta
questão causou à sua família e ao Povo Judeu. Estamos confiantes que tal passo demonstrará um importante gesto de boa vontade
e colocará um ponto final neste embaraçoso e doloroso episódio.
Sinceramente
James S. Tisch
Malcolm Hoenlein
Chairman
Executive Vice Chairman